
— … e reze um rosário em penitência. — Disse isso, enquanto fazia o sinal da cruz, e aguardava que ele levantasse.
Ele não levantou em silêncio absoluto… ele sempre agradecia ao padre que o confessasse.
Decidiu por se confessar, no dia em que falaria para sua mãe.
Com a mãe, as coisas sempre foram mais fáceis. E ela sempre se preocupava em dobro: preocupava-se pelas angústias dele… e preocupava-se como o pai iria reagir. Não que fosse um bruto. Não o era. Mas era rígido:
…
— O que foi isso? — perguntou-lhe o pai, quando ele chegou da escola com um olho roxo!
Ele, de cabeça baixa, segurava o choro, sem responder. O pai abaixou-se na frente dele:
— Olhe pra mim. Você vai voltar lá, e não virá embora antes de que quem tenha feito isso, fique igual a você, entendido?
Ele balançou a cabeça. Largou os cadernos da quinta série e retornou pelo caminho da escola, assolado pela angústia tremenda. Não tinha medo de quem lhe batera. Não teria medo da briga, ou de apanhar de novo… a angústia era porque não queria brigar. Sobretudo, apavorava-lhe a ideia de bater em alguém. Mas não ousaria desobedecer o pai.
Antes de chegar na escola, viu o garoto que lhe havia agredido passar correndo e chorando, com a camisa rasgada e uma das mãos no rosto. Em seguida, viu seu irmão, 15 meses mais velho, com o uniforme todo desalinhado:
— O pai mandou você voltar?
Ele balançou a cabeça. O irmão colocou a mão sobre seus ombros, virou-lhe no caminho de casa e saiu caminhando ao seu lado.
— Já resolvi pra você. O olho dele também está roxo.
De alguma forma ele sentiu um alívio. E sentiu-se quase culpado por isso, porque entendia que pelo pecado do irmão, escapara de pecar batendo ele mesmo no colega.
O irmão tornou a falar:
— Mas olha, agora você me deve uma. Não vai contar pro pai que me viu fumando nos fundos da escola.
…
Quando contou para a mãe, ela encheu os olhos de lágrimas que não caíram.
O coração de mãe, sabia há tempos… mas era diferente ouvindo-o falar. Talvez não estivesse preparada.
Passados uns instantes, ela pegou as mãos do filho, segurou-as e disse-lhe, simplesmente:
— Filho. Tu serás sempre medido e julgado, pelo que levas no coração. E eu tenho muito orgulho de você.
Ele abraçou a mãe. Quando soltaram o abraço, veio a pergunta que ele esperava:
— Quando você vai contar para o seu pai? Ele está doente, você sabe…
Ele baixou os olhos…
— Eu não sei…
— Você precisa contar. Não pode esconder.
— Eu sei…
Luís Menna Bareto em 24 de dezembro de 2017
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